sexta-feira, 8 de abril de 2011

Medalha de Bronze


Há um caminho perdido entre as tantas avenidas que riscam a terra, feito rugas em velhas faces, mostrando trajetos ,formando projetos ,um rumo torto,um risco certo.
 Em volta contorna um rio imenso.
No teor das águas o sal é intenso, pois nasce na fonte dos cantos dos olhos que vaza constante no velho da face.
Não há quem não note, passando por perto, a beleza intrigante da face ,dos olhos do rio,das rugas do velho
 E no caminho, escondido, mora o menino, contido, preso, guardado, roubado da infância,
parado em posição de sentido,cantando hino,fazendo continência .
Arrancaram-lhe o coração e deram-lhe uma grande medalha...
Mas medalha de bronze, e o bronze é bem frio.
Não bate,
Não pulsa,
Não sente,
Não ama...
Quando alguém se aproxima o menino se alegra, quer ser bom sujeito...
Mas o peito é vazio; não tem sentimento
Quer falar, mas não tem argumento,
Estende as mãos tímidas e oferece uma nova medalha...
O frio do metal faz jus ao que vai no seu peito oco e fica atônito a espera do aplauso que nunca vem...
Não há quem assista ao teatro estrelado por um único artista.
O grito é unânime:
Desista, desista
Mas é forte a vontade, é grande o querer...
No oco do peito ecoa a resposta:
Insista, insista...
O rasgo das rugas cada vez mais profundo...
As águas do rio cada vez mais travessas...
O oco do peito cada vez mais imenso....
As avenidas mostram o sentido do fim
O menino calado, o tempo passado, o aplauso que nunca chega...
Ouve-se apenas os risos dos outros que vivem distante e zombam  constante do velho menino...

“Hoje, como quem vê em vão o quanto calou o que devia falar
O quanto falou o que devia guardar
E só vive por que o pulsar das veias é definitivamente  irreversível’’                        
                           23/09/1993                      Tilo 

Nenhum comentário:

Postar um comentário