sábado, 23 de abril de 2011

Veredicto

                                                                                                   tilo    
      Senti novamente a fria mão da morte sobre meu ombro que,silenciosa e muda,caminha ao meu lado.
     Há tempos não sentia a sua presença.Não que estivesse ausente, pois bem sei que nunca nos deixa,é que as vezes estamos tão envolvidos com a vida que nos esquecemos da morte,mas ela não nos esquece...
       Caminha dia após dia junto de nós, calada e paciente.
Comigo agora também caminha um anjo rebelde, encarregado de, junto com ela, conduzir-me a última morada.
      Quando iniciamos nossa peregrinação temos ao nosso lado a luz,as trevas e a morte,essa última não nos deixa nunca,as outras nós escolhemos qual irá até o fim.
     No meu caso a luz apagou-se.
     Agora, de um lado, ela...Do outro o breu,as trevas ,a escuridão...
    Não há mais volta, não tem mais jeito...
    Hoje sou o que posso, não o que desejo...
    Por isso, se às vezes me achares cansado e triste, entenda-me.
    Se não tenho ânimo de caminhar contigo pelas ruas ou pelos campos desculpe-me...
     Se não vejo mais beleza nas alvoradas, nos poentes, nas noites, compreenda-me
    Se as vezes não consigo corresponder aos teus carinhos.teus desejos ,teus sonhos,tuas alegrias.perdoa-me...
     É que, feito um condenado que espera a hora de ir para a cela,espero eu a hora de ir com a morte e o anjo para o calabouço solitário para cumprir a pena:
                Prisão perpétua
   


                                                                          7/10/2002

Manhã

                                                                     Tilo
Hoje, a manhã nasceu com cheiro de saudade e trouxe-me a sensação que a saudade traz...
Algo assim com se ,de repente, tivesse ouvido o som de uma voz... 
Porém não havia som ,porque a saudade é silenciosa...
Seu cheiro é como o cheiro da chuva, ou antes, como um presságio de chuva minutos antes que caia
Eu ,por ser melancólico,aprecio esse cheiro,gosto deste clima ,já que saudade só se tem do que foi bom ...Levado pelo tempo mas agarrado à gente
  As águas escorrem entre as pedras e o lodo fica ..
  Por assim ser, por mais que o tempo entre e saia de mim nunca levará com ele o lodo de minhas saudades...
                  


                                             28/07/1996

 

Confissões

                                                                                        Tilo
É bom ficar contigo, andar na chuva, olhar o céu
Inventar um nome para as estrelas
E para essa lua que nos olha com o canto dos olhos
É bom andar descalço com você nesse asfalto
Ou na poeira desse chão
Conversar Luana, Débora, Bárbara ou Tê...
Ver de novo o arco-íris e contar suas cores,
Se encharcar de alegria simplesmente por te ver sorrir
É bom sentir seu corpo junto ao meu,
Afagar seus cabelos,
Contar o dia passado,
Sonhar o dia futuro...
É bom ver você como se fosse uma rosa de vidro dentro de um frasco de cristal
Ou como uma pantera de pé sobre o monte alto...
É isso o que penso quando estou sentado no monte vendo o
Pôr do sol enquanto a noite se aproxima
E as gaivotas voam em bando...
E chego até a me esquecer do meu barco naufragado do lado esquerdo do meu peito...               


sábado, 16 de abril de 2011

breu

Fecho os olhos e busco o breu                                                                                                   tilo
A escuridão me acalanta,me acalma ,me traz paz
Porque se em parte sou afoito e me assanho
Noutra parte melancoliso o eterno sonho que é viver
Abro os olhos e me desprendo como se tivesse nascendo... A claridade me amedronta, me apavora, me espanta
Pois, se de um lado de mim brilha a luz do sol nascente
Do outro lado traz nos olhos o vermelho de um incessante crepúsculo
Solto a fala em sussurros... Não há forças para cantar
Falo assim de mim pra mim porque metade de mim guardei segredo e outra metade nunca existiu
Agora canto um desafino como fazem os meninos
Na cantiga, amo alguém e chego a ter saudade
Me emociono porque um pouco de mim tem paixão
O outro pouco guarda ainda o semblante de menino
De repente faz-se pranto
Conter até que tento, mas sou impotente para fazê-lo
Rolando sobre a face vai-se escorrendo minha emoção
Por que se há em mim uma porção árida, infrutífera
Outra porção teima na insistência de sugar ,a qualquer custo um meio de florescer
Calo a voz e estanco o pranto num esforço, num repente
É preciso dar conta
É necessário que se consiga
Porque se por um tempo não for nada mais que um simples vulto
Noutro tempo serei tudo
Uma imagem querida e esperada por ser a razão de viver de alguém...

Cais

                                                                                                                                Tilo
No cais do coração os sorrisos e as lágrimas se encontram e se separam
Se misturam com tantos rostos e vozes
Soluços e abraços
As gaivotas voam primeiro para longe dos olhos...
Distantes dos sonhos...
No cais, a tristeza parte deixando a agonia em prantos
E o desespero nasce ofuscando a esperança
O peito fica pequeno pro coração
E aperta mais quando se afunda por traz de uma onda e desaparece o barco que levou embora o sonho...
A alegria...
O amor.

Areias do tempo

Morte                                                                                                                                   !Tilo 
Na voracidade desse instante  tudo vem  a tona:
Os prazeres, os amigos,  os ganhos, as perdas...
Num raio de segundos passa em mente toda vida
Sempre queremos um minuto a mais ,uns poucos décimos para que possamos  falar ou fazer algo mais ...
Porém  a lâmina afiada da foice decepa-nos do mundo, da vida, de  tudo ...tal qual cortar o cordão umbilical nos separa da vida uterina para a vida comum, a foice ,com  um  só golpe põe fim  a essa, e nos arrebata sabe lá pra onde...

NASCIMENTO                              ENSAIO
   CASTIDADE                          PRAZER
        TEMPO                    RAZÃO
               BUSCA          DIVISÃO
                     DISTÚRBIO
                       MORTE
                          VIDA
                           F
                           I
                           M
              A R E I AS  D O T E M P O


Ícaro

                                                                                                                      Tilo 
Teci asas de ilusão e sonhos,
Amarrei com esperanças...                                                                                                                                   
Tornei-me um homem alado e voei ao teu encontro.
No céu do teu corpo luzia teu coração-sol ;
A cada obstáculo que tinha tomava um gole de desejo...
Girei em tua órbita buscando um ponto para aterrissagem...
Pousei, enfim, no teu seio.
Embriagado de desejo te amei.
Porém, o sonho era maior, mais forte a ilusão.
Movido pela esperança, segui... até que avistei teu coração tão lindo e tentador que quis tocá-lo..
E, ao buscar o meu intento, não percebi que o calor do teu coração-sol derretia minha ilusão,
Dissolvia meu sonho,
Queimava minha esperança...
E caí

Morrendo Calmamente

       E novamente a hora chega sem você.....                                                                Tilo 
         não te trouxe
         mas trouxe a angústia e afliçao
        pois
        na tua ausência
       que pode existir de bom
       tu virias pela manhã
        e eu te esperava desde o anoitecer...
       mas
       voce não veio
       e
        na desesperança
       de te esperar
         vou morrendo    calmamente...

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Silêncio das Pedras

   Vago só e calado..                                                                                                                              .Tilo 
Se o canto me vem, o sufoco, se o riso nasce, aborto.
Não há forças pro canto, não há razão para o riso. Onde se via o verde-esperança, hoje se vê o cinza-saudade, onde se ouvia o canto dos pássaros, hoje só há o silêncio das pedras...
Pedras que piso e cortam pelos pés tornando rubro o caminho. A cada passo sinto a vida de meu ser se derramando... Sou também caminho de pedras sem vida, sem sentido... Principio do nada e findo em lugar nenhum.  Qual este caminho é, sou eu: frio, rígido, silencioso,,,Escoa enfim, de mim, toda a vida...deito-me sobre o caminho e me dissolvo...
Não me torno pó, e sim pedra..
Sou agora parte pedra do caminho...
Do caminho sou pedra...

Medalha de Bronze


Há um caminho perdido entre as tantas avenidas que riscam a terra, feito rugas em velhas faces, mostrando trajetos ,formando projetos ,um rumo torto,um risco certo.
 Em volta contorna um rio imenso.
No teor das águas o sal é intenso, pois nasce na fonte dos cantos dos olhos que vaza constante no velho da face.
Não há quem não note, passando por perto, a beleza intrigante da face ,dos olhos do rio,das rugas do velho
 E no caminho, escondido, mora o menino, contido, preso, guardado, roubado da infância,
parado em posição de sentido,cantando hino,fazendo continência .
Arrancaram-lhe o coração e deram-lhe uma grande medalha...
Mas medalha de bronze, e o bronze é bem frio.
Não bate,
Não pulsa,
Não sente,
Não ama...
Quando alguém se aproxima o menino se alegra, quer ser bom sujeito...
Mas o peito é vazio; não tem sentimento
Quer falar, mas não tem argumento,
Estende as mãos tímidas e oferece uma nova medalha...
O frio do metal faz jus ao que vai no seu peito oco e fica atônito a espera do aplauso que nunca vem...
Não há quem assista ao teatro estrelado por um único artista.
O grito é unânime:
Desista, desista
Mas é forte a vontade, é grande o querer...
No oco do peito ecoa a resposta:
Insista, insista...
O rasgo das rugas cada vez mais profundo...
As águas do rio cada vez mais travessas...
O oco do peito cada vez mais imenso....
As avenidas mostram o sentido do fim
O menino calado, o tempo passado, o aplauso que nunca chega...
Ouve-se apenas os risos dos outros que vivem distante e zombam  constante do velho menino...

“Hoje, como quem vê em vão o quanto calou o que devia falar
O quanto falou o que devia guardar
E só vive por que o pulsar das veias é definitivamente  irreversível’’                        
                           23/09/1993                      Tilo 

Coração Peregrino

Quero caminhar sem tocar o chão, sem levantar o pó...                                              Tilo  
Quero me encharcar de chuva e não me secar
Afinal, água é meu elemento
Terra é minha mãe...
Quero quebrar o silêncio sem despertar os homens
Quero trazer alegria sem que ela me contagie
Pois meu grito é mudo e ser triste é meu vício
Quero andar ligeiro e nunca chegar
Quero chegar todo dia e nunca partir
Já que meu ser é raiz ,mas meu coração...
Peregrino

Inércia

                                                                                                                                                    Tilo    
Repentino, o vento frio sopra vindo do sudeste...
A face gela, o pêlo arrepia...
Ignoro o sentimento anestesiado pela solidão.
 Do alto da janela vejo o breu da noite, uma dúzia de estrelas teimam  em brilhar...
Lá longe, cintila um lume opaco das luzes da cidade adormecida, dormem os homens; perambulam os loucos, as mariposas cegas vagam buscando luz... eu ali permaneço na inércia do nada...
Alimento-me do passado, sobrevivo de lembranças...
Espero pelo que não virá...
Espero ter de novo aquilo que nunca tive

IMORTAL

Vida                                                                                                                                                       Tilo       
Ilusão e sonho; desencanto e esperança...
Viver é se iludir enquanto não se morre
Esperança
Anseio e angústia; sujeição e liberdade...
Esperar é iludir-se enquanto não se morre
Liberdade
Ludíbrio e busca; descaso e solidão...
Libertar-se é iludir-se enquanto não se morre
Solidão
Noites e crepúsculos; silencio e tristeza...
Solidão é iludir-se enquanto não se morre
Tristeza
Nascer e viver; sonhar e morrer...
Tristeza é iludir-se enquanto não se morre
Morte
Solução e medo; predição e fim;
Morrer é acabar com a tristeza
É por fim na solidão,
É conquistar a liberdade
É enfim, alcançar a esperança
Que sempre temos de sermos imortais

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Sólida Solidão

                                                                                           Tilo                                                                                            
Só, unicamente só
Sem ti, sem vida,                                                                     
Sim, você era minha a vida e agora estou aqui...
Quieto, triste ...
A canção que toca na vitrola arranha o silêncio do momento.
Tua presença está em tudo, até mesmo no som do automóvel que passa longe
Nesse silencio quieto e frio em que me encontro,
Nesse canto do canto que canto,
Nessa canção falada
Nessa oração que rima
Na hora que a lágrima rola
Nessa face fria desses olhos tristes
Nesse corpo carente que te quer sempre presente...
O céu cinza pálido, a chuva cai ...
Nessa pressa de sarar tento ate sorrir
E o riso falso, forçado quebra o triste do rosto, mas não quebra a solidão...
E é nela que mora a tua presença sólida
Na saudade da vida fico... Até quando?
Não sei



Fagulhas

                               Tilo                                                     
                  Os minutos brincam e as horas passam
Sentado ali olho o mundo ao meu redor
Apressados passam os carros na eloqüência de se viver
Vagarosos, caminham os homens na repetida sina do vai e vem
O vento sopra na janela e um arrepio percorre meu corpo
É manhã ,é agosto...
A palidez do dia me traz melancolia, lembranças do passado, saudade de algum tempo...
O sol pela vidraça mais parece lua cheia
 como daquele tempo que tenho saudade em que sentávamos na esquina e as labaredas da fogueira soltava mil fagulhas
Nosso riso ,nossa fala ...
Mas é sol, e não lua
É dia e não noite...
Não há fogo senão o da saudade que arde constante
Devorando as lembranças...
Ao meu lado a moça de olhos tristes conversa e ri
De cá fico tentando decifrar seus pensamentos...
De repente mais um carro...
É a placa,,é o dígito
Outra fala, “bom dia”
É a saga desse tempo
 Minha sina
 Meu destino...

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Epitáfio tilo

Quando um dia for eu motivo de choro e desconsolo, espero que não se emudeça a fala nem o canto...
Quando já for quem sabe o remoer da alma na viva recordação, não quero que vença a tristeza nem haja remorso...
Quando me tornar um túmulo florido e ornado, não quero lágrimas nem revolta...
Quando já for tão somente um número no gramado gravado no mármore frio, sem flor nem visita, não quero piedade de estranho nem choro de ingrato
Quando já não for mais que uma mera citação de caso antigo, quem sabe uma grata lembrança não quero nem soluço nem silêncio
Quando já for nada ou tão somente mais uma inscrição na lápide da qual pouco se saiba e nada se recorde não quero busca nem descaso...
Ali, só o que vou querer será paz,mas isto sei que nunca terei

Poeira Cósmica tilo

Caminho  qualquer estrada em um rumo incerto.
Não importa pra onde vá.
Se estou longe ou perto, tanto faz...
de noite ou de dia, sozinho ou junto à multidão Não faz diferença...
Se há alguém a minha espera que anseia em me ver
Ou somente a solidão me aguarda eu não ligo
Se olhos me espreitam e corações apressam em me ver
Ou nem notam quando me aproximam não tem importância
Estou feito estrela sem luz, sem vida, sem sentido...
Vago trajetórias sem parada, sem pra onde, sem pra quê...
Viajo na órbita, rotação, translação até que,quem sabe um dia,colida e me transforme em pedaços ,estilhaços,fragmentos,pó, poeira cósmica no espaço sideral que esvoaça no infinito e desvanece...